martes, 17 de abril de 2007

Campanha do Governo «insulta» trabalhadores



O socialista Manuel Alegre criticou hoje a campanha de promoção televisiva do programa do Governo «Novas Oportunidades», considerando que insulta os trabalhadores com poucos estudos e as profissões que exigem menos habilitações literárias.

A campanha de promoção ficciona o que seria a vida de personalidades como o treinador de futebol Carlos Queirós e a estilista Maria Gambina se não tivessem estudado, mostrando o primeiro a limpar um estádio e a segunda a trabalhar numa lavandaria.

«O pior é quando me ponho a pensar onde podia ter chegado. Se ao menos tivesse continuado a estudar...», afirmam, em tom de lamento, nos respectivos vídeos, as várias figuras públicas, surgindo em seguida a frase «Aprender compensa».

Em comunicado, divulgado hoje na página da Internet do Movimento de Intervenção e Cidadania (MIC), Manuel Alegre enalteceu o programa que pretende qualificar um milhão de portugueses até 2010, mas disse não compreender «a estratégia de comunicação adoptada» para o promover.

«Apresentar um conjunto de figuras conhecidas no papel de perdedores porque não acabaram os estudos é um insulto a todos aqueles que, pelas mais diversas razões, não possuem outras habilitações que não sejam a sua competência e o seu desempenho profissional», contestou Alegre.

«Uma coisa é defender uma segunda oportunidade em educação, outra é denegrir profissões apresentadas nesta campanha como desqualificantes. É uma questão de dignidade», acrescentou o presidente do Conselho de Fundadores do MIC, o órgão consultivo do movimento, e deputado do PS.

Manuel Alegre concluiu o comunicado declarando que «trinta e três anos depois do 25 de Abril, o culto do sucesso pelo sucesso não pode levar ao insulto a todos aqueles que realizam com brio e dedicação o seu trabalho, seja qual for a profissão que exerçam».
Texto del Comunicado.
Uma questão de dignidade
[17-04-2007]
O programa “Novas Oportunidades” que o governo está a levar a cabo é uma iniciativa positiva. A preocupação com a qualificação dos portugueses é legítima e as medidas para a elevar são bem-vindas. O que não se compreende é a estratégia de comunicação adoptada para defender o programa. Apresentar um conjunto de figuras conhecidas no papel de perdedores porque não acabaram os estudos é um insulto a todos aqueles que, pelas mais diversas razões, não possuem outras habilitações que não sejam a sua competência e o seu desempenho profissional.
Portugal continua a ter índices de insucesso e abandono escolar muito elevados. As qualificações médias dos portugueses continuam a ser bastante inferiores às dos restantes países europeus. Não é apenas a competitividade da nossa economia que está em causa, é o direito constitucional à educação e à cultura, condição da igualdade de oportunidades, da superação das desigualdades, do desenvolvimento da personalidade e do progresso social, que não está a ser garantido. Por isso tenho defendido a ideia de uma segunda oportunidade em educação como um novo direito social.
Mas uma coisa é defender uma segunda oportunidade em educação, outra é denegrir profissões apresentadas nesta campanha como desqualificantes. É uma questão de dignidade. Trinta e três anos depois do 25 de Abril, o culto do sucesso pelo sucesso não pode levar ao insulto a todos aqueles que realizam com brio e dedicação o seu trabalho, seja qual for a profissão que exerçam.
Manuel Alegre, Presidente do Conselho de Fundadores do MIC


6 comentarios:

Anónimo dijo...

A Associação 25 de Abril faz hoje a apresentação pública do seu blogue. Durante o lançamento será proferida uma comunicação pelo professor José Rebelo, subordinada ao tema "A Importância dos Blogues na Comunicação Social do Século XXI".

Anónimo dijo...

Mas o povo é de memória curta e de compreensão lenta e para aprender só à bordoada, antigamente usava-se a menina dos cinco olhos (palmatória), com excelentes resultados na aprendizagem da taboada.

Anónimo dijo...

As oportunidades não são iguais para todos.Os filhos de ricos têm muito melhores condições para terem um canudo ou uma especialização qualquer, enquanto os filhos dos trabalhadores naõ teêm as mesmas condições económicas socais para poderem tirar um curso e especializarem-se.
A campanha do governo é um tremor de terra contra os trabalhadores que fazem certos serviços que precisam ser feitos, mas são mal pagos, e por isso só os emigrantes, desempregados, e pessoas sem especialização os querem fazer.
Um jardineiro, cantoneiro, servente de obras, pedreiro, etc é tão digno como ter um curso superior desde que seja feito com dignidade, responsábilidade, e só esses trabalhadores podem dignificar a sua profissão lutando por melhores condições de vida e de trabalho no dia-a-dia.

Anónimo dijo...

Se alguem merece o cargo de deputado, com tudo o que ele implica, e Manuel Alegre.
Mais uma vez la vem a sua voz incomoda, cada vez para mais criaturas, levantar uma questao importante.
E preciso serem muito mauzinhos para nao entenderem o recado.
Mas para mim, nao querem e entender. E que de parvos nao teem nada.

Anónimo dijo...

Se nao fossem os ajudantes dos clubes (que representa Carlos Queiroz) eram as vedetas da bola que iam lavar os seus equipamentos?
Se nao fossem os donos de quiosques (que representa Judite de Sousa) eram os proprios jornalistas que iam vender os jornais no fim de uma madrugada na redaçao?
Se nao fossem os empregados do teatro / cinema / salas de espetaculos (representados pelo Pedro Abrunhosa) eram os musicos, actores que iam vender bilhetes, limpar as salas depois de cada espetaculo, dar informaçoes?
....
Pois é... nem todos podemos ser Doutores e Engenheiros! Todas as profissoes com mais ou menos formaçao sao dignas, devem ser respeitadas e valorizadas! E nao mostradas como frustraçao de uma meta nao atingida!
Porque tal como numa cadeia alimentar (levando ao extremo) os grandes nao conseguiam sobreviver sem a existencia dos mais pequenos. Porque é isso que evidencia a publicidade, que as profissoes que exigem menos formaçao sao os pequenos... E isso nao é verdade!!!!
Cada qual se deve orgulhar do papel que tem na sociedade, e quando nao se está contente, aí sim, lutar por algo mais!
Mas com tanta gente no desemprego (verdade seja que alguns é porque querem) é melhor que nada!

Anónimo dijo...

O que está descrito na notícia não tem nada de contraditório. Isto é a polivalência e a flexibilização, que tanto apregoam estes arautos do neoliberalismo. Ponham os políticos a fazer os trabalhos menores e verão como se portam?!!! A humildade é um dom a aprender, pelos menos de quem se usurpa de determinados títulos.