martes, 28 de octubre de 2008

Manuel Alegre, mais uma vez....


"Nada ficará como dantes. Mas em que sentido se fará a mudança? Era aí que a esquerda deveria ter um papel."
VIA NOVA

Segundo o General de Gaulle, comete-se por vezes o erro de ter razão antes de tempo. Na moção "Falar é preciso", apresentada ao Congresso do PS em 1999, cometi esse erro:
"A crise financeira que alastrou, dos mercados asiáticos à Rússia e já ameaça gravemente o Brasil e toda a América Latina, pode minar, de um momento para o outro, pela incerteza e pela volatilidade, o próprio funcionamento dos maiores centros financeiros do mundo. A 'mão invisível' falhou. São os mais ortodoxos ultraliberais, como Milton Friedman, que vêm agora pedir a nacionalização da banca no Japão.
"E é por isso que é necessária uma nova esquerda. À escala europeia, primeiro. Mas capaz de se fazer ouvir, também, à escala mundial. À dimensão planetária do actual poder económico, financeiro e mediático, há que contrapor uma alternativa política.
"Temos de continuar a exigir uma reforma das instituições internacionais, do FMI ao Banco Mundial, para que deixem de ser arautos e agentes do pensamento único. Outra lógica terá de presidir à Organização Mundial do Comércio, para que a livre circulação de mercadorias não se torne em mais um instrumento de enfraquecimento das economias mais frágeis.
"É preciso regular os mercados financeiros mundiais, cuja ditadura e irracionalidade põem em causa a própria estabilidade dos sistemas políticos democráticos."
Que fazer agora?
Os defensores do Estado mínimo, ideologicamente derrotados, pedem a intervenção do Estado. Para quê? Suspeita-se que para manter o que está e socializar as perdas. O problema é que, se tudo ficar na mesma, as mesmas causas produzirão os mesmos efeitos.
E a esquerda? Como escrevi, também antes de tempo, na moção que levei ao Congresso do PS de 2004:
"A esquerda tem de integrar e debater, no seu pensamento próprio, os princípios e os instrumentos possíveis de regulação da globalização: o combate à predação das multinacionais que localizam e deslocalizam investimentos a seu bel-prazer, a taxação das transacções financeiras internacionais, a abertura dos mercados dos países desenvolvidos às exportações oriundas dos países em vias de desenvolvimento, a travagem da proliferação dos off-shores, o combate à economia 'suja' dos tráficos de pessoas, drogas e dinheiro, o combate à exploração de mão-de-obra infantil, escrava ou sem quaisquer direitos sociais, e à degradação ambiental."
Propus então um novo Contrato Social. E um Estado estratega, "cuja função não se reduz ao papel de árbitro, mas de produtor de bens públicos essenciais, desde o funcionamento do Estado de Direito à promoção dos serviços de interesse geral e à regulação dos mercados. Um Estado estratega a quem caberá suprir as falhas do mercado e estimular áreas ou sectores qualificados." E acrescentava: "Para desempenhar essa função, o Estado precisa de manter nas suas mãos instrumentos eficazes, como por exemplo a Caixa Geral de Depósitos.
" Hoje até Alan Greenspan reconheceu que errou ao confiar que o mercado pode regular-se a si próprio. Mas, em 2004, aquelas ideias que propus pareceram arcaicas aos fundamentalistas do neoliberalismo e aos entusiastas da chamada esquerda moderna.
Não se sabe que réplicas se seguirão ao tsunami que abalou o sistema financeiro mundial. Nem até que ponto irá a recessão económica e quais as suas consequências sociais e políticas. Sabe-se que nada ficará como dantes. Mas em que sentido se fará a mudança? Era aí que a esquerda deveria ter um papel. Mas onde está ela? Talvez algo de novo possa surgir de uma vitória de Obama. Pelo menos um sopro de renovação. Mas há um grande défice de esquerda na Europa. Uma nova esquerda só poderá nascer de várias rupturas das diferentes esquerdas consigo mesmas. Ruptura com as práticas gestionárias e cúmplices do pensamento único. Ruptura com a cultura do poder pelo poder e com o seu contrário, a cultura da margem pela margem, da contra-sociedade e do contrapoder. Processo difícil, complicado, mas sem o qual não será possível construir novas convergências. Não para a mirífica repetição da revolução russa de 1917, nem para um modelo utópico global. Tão-pouco para segundas ou terceiras vias. Mas para uma via nova, que restitua à esquerda a sua função de força transformadora da sociedade e criadora de soluções políticas alternativas.
Manuel Alegre
Artigo publicado no DN a 28 de outubro de 2008.
Mais uma vez, caro amigo e camarada, falas verdade.

5 comentarios:

Anónimo dijo...

Porque não direira nova ou centro novo. Discordo, Portugal precisa é de GENTE NOVA E POLÍTICA NOVA e ideias novas, isso sim é que o Dr. Manuel Alegre deveria pedir em lugar de bater na tecla do esquerdismo, falido incoerente e utópico. Bem se viu o que a esquerda fez nos últimos anos.

Jose Carlos Molina dijo...

6] JÁ NÃO HÁ TEMPO A PERDER
Maria Amélia Campos, 2008-10-28 18:14:01
JÁ NÃO HÁ TEMPO A PERDER

Quem alguma vez acreditou que o mercado se poderia regular a si próprio, ou é ingénuo ou estava-se a preparar para enriquecer depressa à custa dos ingénuos, que somos a maior parte.”Estou-me nas tintas” para termos como neliberalismo, off-shores, e outras alarvices discursivas. Não passam de rótulos para esconderem a gula desenfreada, a trapacice e a ordinarice em que os sistemas se enredaram, arrastando tudo e todos numa lama suja e viscosa da qual poucos se poderão salvar.
Não sou estratega nem economista e muito menos sibila, mas sei ler símbolos e descodificar comportamentos, o que me leva a saber distinguir se as coisas vão no bom ou no mau caminho. E se, por outro lado, o que é bom para uns não o é para outros, é imperiosa a necessidade reguladora do Estado, de modo a impedir que uns tenham em excesso e comam tudo, e outros nada tenham ou venham a morrer de fome e de abandono.
E aqui, o Estado no qual confiámos falhou na sua missão e revelou-se num onzeneiro impiedoso e sem moral. E os cidadãos? Será que conferiram a factura em devido tempo? E se conferiram, e se protestaram ou sugeriram que as coisas fossem de outro modo – a isto chama-se democracia participativa -, alguém os ouviu?
Temos agora a resposta: não. Não nos ligaram qualquer importância. Acharam até que os nossos avisos eram “irrelevantes”. Pensaram tratar-se de acções concertadas de oposição gratuita, e agora aí estamos todos prestes a naufragar, afectados por uma crise impiedosa, que atinge em cheio os mais desfavorecidos.
Pergunto-me de que valerá comentar posições e comentar o que os outros comentam. Em minha convicção é pura perda de tempo. Mas em todo o caso, aqui fica o meu testemunho: tudo isto era previsível, porque é da natureza das coisas. As derivas aí estão, “nuas e cruas”, e o novo ciclo que se aproxima não está a ser acautelado. Temo que o descontentamento alastre e que a violência transborde. Não poderemos recorrer infinitamente às prisões e aos castigos para resolver questões sociais. É uma desumanidade e alguém terá que responder por isso.
Escrevi eu, aqui neste mesmo site, que os naturais “sobreviventes”, por serem dotados de um espírito forte e abnegado, acabarão sempre por se juntar, numa tentativa de dar continuidade ao Mundo, tornando-o melhor e tornando-se melhores a si próprios”. Se isto é uma nova esquerda, não o sei. O que sei é que é desejável não perder de vista o ideal democrático nem a capacidade constante de recriação dele.

Gostei do comentario de María Amélia e ponho cá com a sua licença e fica na pa´gina de comentarios do MIC.

Anónimo dijo...

Carlos Marques de Almeida

O destino, o acaso e a fortuna juntaram de novo Mário Soares e Manuel Alegre em reflexão simultânea, mas separada, sobre a refundação da Esquerda. Da leitura dos panfletos, três características esbarram na atenção das novas gerações. Em primeiro lugar, os artigos demonstram uma leitura unidimensional do mundo, ao que se acrescenta uma análise da sociedade refém da superioridade moral dos autores. Em segundo lugar, Soares e Alegre pretendem ser apóstolos do futuro e agem como únicos e legítimos representantes da Justiça e do Bem. Finalmente, a suposta abertura ao diálogo esconde uma posição dogmática que ignora os erros, as omissões e os crimes da Esquerda. Mário Soares e Manuel Alegre deviam praticar o bom senso e começar pela auto-crítica que é o princípio de toda a reflexão política. Em vez de um exercício de humildade democrática, Soares e Alegre começam e acabam na acusação e na condenação sumária de uma doutrina – o liberalismo. Afinal, o que existe de novo em Soares e Alegre não passa de um ódio antigo.

Sucede que o discurso sobre a crise do liberalismo também já mergulhou nos meandros da sua própria crise. A crise do pensamento à Esquerda (seja ela qual for) revela-se no imobilismo e na revisitação dos lugares comuns de outros tempos e de outras derrotas. Ler Mário Soares e Manuel Alegre é um passeio pelo ‘boulevard’ de Paris em 1970, é uma incursão na memória épica de uma Esquerda mítica e fustigada pela História. A renovação da Esquerda não se pode confundir com a melodia das palavras em ritmo de pronunciamento moral, mas exige sobretudo a força das novas ideias em perpétuo movimento.

O único movimento detectável à Esquerda parece ser a vertigem da ruptura. Uma sequência infernal que, de ruptura em ruptura, foi perdendo os vestígios de um conteúdo político até à vitória completa de um fragmento final.

O observador cínico pode sempre encontrar nas reflexões para a “Via Nova” o desenho de uma frente de Esquerda para uma candidatura de Manuel Alegre à Presidência da República. Em tempo de crise, Manuel Alegre, que teve razão antes de tempo, resolve reclamar os créditos ao novo PS de Sócrates.

Mário Soares e Manuel Alegre partilham um desejo para o mundo e um sonho para a Esquerda – Barack Obama. Soares e Alegre dirigem o olhar para o Atlântico em busca de um suplemento de esperança. A esperança de uma nova América, ou o sonho de uma nova pátria para o Socialismo.

Lido no Diário Económiconenescrito por un tipo muito exquisito.

Anónimo dijo...

Lo más triste es que los auotores del desastre intenten refundar esa sistema sobre los mismos pilares, basta un lacado, un poco de barniz, mucho mensaje subliminal y adelante el NUEVO CAPITALISMO habrá renacido cuál ave fénix.

Merece la pena intenar acabar con estos h. de p.

Puntos de vista y ... nada más dijo...

É para não acreditar!!! Agora vai ser a esquerda a responsável pela falência do sistema capitalista liberal! É grande a habilidade que alguns têm para, como dizem os espanhóis, "salir de rositas".